domingo, 29 de maio de 2011

"À primeira qualquer cai"

Manuela Ferreira Leite, ex-Presidente do PSD

Esta campanha eleitoral iniciou-se sob inúmeros apelos a que se diga a verdade, dado o momento difícil por que estamos a passar, como se a verdade, a que todos têm direito, fosse só ditada pela conjuntura!
No entanto, de verdade pouco se tem ouvido.
Tudo tem servido para distrair, tais como a girândola de sondagens, nunca antes vista, que não serve para esclarecer, mas apenas para desviar as atenções do que é verdadeiramente importante.
E o que é importante são as políticas que vão ser seguidas para retirar o país da dificílima situação a que foi conduzido pelo PS.
A verdade é que essas políticas vão estar condicionadas pelos termos do acordo assinado com as instâncias internacionais.
Segundo esse acordo, comprometemo-nos a intervir nalguns sectores bem definidos e a adotar determinadas medidas, em troca de um empréstimo que nos livre da bancarrota.
É um compromisso muito sério, selado por várias assinaturas, cujo conteúdo é público e sobre o qual não se podem levantar dúvidas sobre a sua execução.
O compromisso é duro, implica sacrifícios e prolonga-se no tempo, pelo que, escamoteá-lo constitui uma irresponsabilidade.
É que a recuperação da nossa credibilidade nos mercados financeiros internacionais joga-se no modo como cumprirmos aquele acordo.
E sobre isto o que se ouve?
Um primeiro-ministro, recandidato ao lugar, a negar tudo que está relacionado com o texto que acabou de negociar e assinar, o que torna a situação ainda mais delicada do que a que já existe.
Nega qualquer responsabilidade sobre a situação financeira em que o país se encontra, como se os credores tivessem dúvidas sobre este assunto.
Nega o que está no acordo sobre o sector da saúde, educação, matéria fiscal ou leis do trabalho e, em contrapartida, não diz como concretizaria estas obrigações se acaso tornasse a ser primeiro-ministro.
Deste modo, a sua campanha limita-se a um ataque cerrado ao maior partido da oposição, sempre que este explica ao país como cumprirá aquilo a que também se comprometeu com as instâncias internacionais.
Quer isto dizer que, se o José Sócrates voltasse a ser primeiro-ministro neste país, nos arrastaria para uma situação semelhante à que está a ocorrer na Grécia. Com efeito, as suas críticas ao PSD significam, uma de duas coisas: ou está a faltar à verdade para ganhar votos ou não pensaria mesmo intervir nas áreas a que se comprometeu e seria o desastre nacional.
Também se percebe por este seu discurso que não apoiará, enquanto oposição, as políticas a que está vinculado, ou seja, até na oposição poderá ser pernicioso ao país.
Confiemos na sabedoria do povo que diz que "à primeira qualquer cai, à segunda cai quem quer" e, que eu saiba, o ditado popular não admite terceira queda. Por alguma razão será.

Artigo publicado no Jornal "Expresso", ed. 28 Maio de 2011

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